Homem ignorante não é o homem sem instrução, mas aquele que não conhece a si mesmo. A compreensão só pode vir com o autoconhecimento, que é o conhecimento da totalidade do nosso processo psicológico. Assim, a educação, no sentido genuíno é a compreensão de si mesmo, pelo individuo, porque é dentro de cada um de nós que se concentra a totalidade da existência.
O que atualmente chamamos educação é um processo que consiste em acumular informações e conhecimentos, tirados dos livros, o que qualquer pessoa que saiba ler pode conseguir. Uma educação desta espécie oferece-nos uma forma sutil de fuga de nós mesmos e, como todas as fugas, cria, inevitavelmente, sofrimentos cada vez maiores. O conflito e a confusão nascem das nossas relações incorretas com pessoas, coisas e idéias e, enquanto não compreendermos e modificarmos essas relações, o mero aprender, a acumulação de fatos, a aquisição de habilitações diversas só nos podem abismar no caos e na insatisfação.
A educação mais apropriada, não descuidando do cultivo da técnica, deve realizar algo de importância muito maior e que consiste em levar o homem a experimentar o processo integral da vida. Se começarmos a compreender o indivíduo diretamente, em vez de o olharmos através da cortina de nossa idéia do que ele “deveria ser”, estaremos então interessados no que é. Então, já não desejaremos transformar o indivíduo em outra coisa; nosso único empenho será o de ajudá-lo a compreender-se a si mesmo, e nisso não há motivo pessoal egoísta ou lucro algum. A educação emocional não está interessada em ideologia alguma, por mais promissora que seja de uma futura Utopia; não se baseia em sistema algum, por mais escrupulosamente que tenha sido concebido; não é tampouco, um meio de condicionar o indivíduo de determinada maneira. Educação emocional, no sentido verdadeiro, é ajudar o indivíduo a tornar-se um ente amadurecido e livre para “florescer ricamente em todo seu potencial físico, mental e espiritual”.
Nisso é que devemos estar interessados, e não, em moldar a criança de acordo com um padrão idealista pré-concebido. Cada um é único e diferenciado, sendo portador de be1ezas e verdades infinitas. A vida não pode ser posta em conformidade com um sistema, não podemos metê-la à força num molde, por melhor que este tenha sido concebido. Inculcar, simplesmente, na mente da criança os valores prevalecentes, fazê-la ajustar-se a ideais é condicioná-la, sem despertar-lhe a inteligência.
Nas relações que mantemos com as crianças e os adolescentes, não devemos encará-los como máquinas, passíveis de “endireitar” num instante, mas como seres vivos, impressionáveis, volúveis, sensíveis, medrosos, afetivos; e no trato com eles necessitamos de muita compreensão, da força da paciência e do amor. Para ajudar a criança a libertar-se dos ditames do eu causadores de tantos sofrimentos, cada um de nós deverá modificar profundamente sua atitude e sua relação com a criança. Os pais e educadores podem, com seu próprio entendimento e conduta, ajudar a criança a ser livre e a florescer em sabedoria e bondade.
O cultivo do respeito para com os outros é parte essencial da educação correta, mas, se o próprio educador carece dessa qualidade, não pode conduzir seus discípulos a uma ação integrada. Não é possível cooperação entre mestre e discípulo, quando não existem afeição e respeito mútuos. A disciplina é um método fácil de controlar uma criança, mas não a conduz à compreensão dos problemas da existência.Uma educação dessa espécie não nos pode ajudar a compreender a criança. nem há de construir um ambiente social isento de divisões e rancores. A finalidade da educação é cultivar relações corretas, não só entre indivíduos mas também entre o indivíduo e a sociedade, que estimula o respeito e a consideração para com os outros, sem incentivos nem ameaças de espécie alguma.
A educação emocional vem com a transformação de nós mesmos. Reeducar-nos para não nos matarmos mutuamente por nenhuma causa, por mais “sagrada” que seja, por ideologia alguma, por mais que prometa a felicidade futura para o mundo; aprender a ser compassivos, a contentar-nos com o suficiente; e principalmente, a buscar o Supremo, o Sagrado, a Vida, o Ser que nos faz ser; porque só então poderá ocorrer a evolução emocional da humanidade.